O desastre das repinturas


O trabalho mais dificil para um restaurador é a remoção das repinturas !
Muitas vezes chegam até nós telas que já passaram nas mãos de " pseudo-restauradores" , que
acabam estragando mais a obra do que restaurando.

O trabalho das remoções de repinturas é um dos mais delicados a serem feitos , pois exigem do restaurador um conhecimento profundo da obra do artista , dos solventes a serem usados e também delicadeza e paciência .

Depois da limpeza superficial feita e a retirada do verniz , é que aparecem os primeiros indícios de uma pintura por baixo da original.
Muitas vezes a remoção é feita com bisturis bem afiados,  para se retirar cada camada sobreposta..


Tela com repinturas



Retirada da repintura com bisturi



Imagem de Santo Antônio Repintada


Retirada da Repintura


Além das repinturas , um problema que encontramos em algumas telas são os nivelamentos feitos com materias inadequados ( como durepoxi , massa corrida , jornal ) . O restaurador para salvar uma obra deve devolver a ela suas características originais. Toda intervenção anterior deve ser removida , chegando o mais proximo do original possível .


E toda nova reintervenção do restauro deve ser obrigatoriamente REVERSÍVEL . Usando materias adequados a cada tipo de obra .


A tela aqui mostrada pertence ao acervo de arte cusquenha do Bank Boston , e a imagem de Santo Antonio é de cliente particular .



      


BRASIL 500 anos , o grande evento

Era o ano das comemorações de 500 anos do Descobrimento do Brasil, e o país todo se agitava para as mais diversas festividades . Entre elas a maior exposição de Arte já vista .

A " Mostra do Redescobrimento Brasil +500 " .

Ocupou os três espaços do Ibirapuera , a OCA , A BIENAL , e onde é hoje o Museu Afro Brasileiro , além de uma sala de projeções ao lado da Bienal chamada " Cine Caverna ".


"Decidimos incluir na mostra um elemento
revolucionário que mudasse, definitivamente,
a história das exposições no Brasil :
em vez de apresentar obras de arte da forma tradicional , resolvemos transformar cada um dos módulos da exposição
em um autêntico espetáculo cenográfico,
a serviço da maior ênfase à beleza dos trabalhos expostos e da compreensão do seu conteúdo. "

Edemar Cid Ferreira


Foi um grande evento , que atraiu um público gigantesco , e foi executado por centenas de pessoas das mais diferentes áreas , desde a reforma da Marquise , dos Pavilhões , a cenografia , iluminação , museologia , conservação , curadoria , transporte de obras , área educativa e patrocinadores.
Bem antes do evento começar fomos chamados as pressas , Anchieta e sua equipe ( eu e Anna ) , para restaurar um painel que existia na OCA. Estava tudo em obras a mil por hora lá , e o painel atribuído a Clóvis Graciano estava se deteriorando devido a infiltração de água no local.





O trabalho não era nada fácil , pois a parede estava bem úmida , que chegava a escorrer . E não havia tempo para se restaurar o painel como devia ser feito , como sempre , deixaram tudo para última hora .
E tinha também muita gente lá dentro , entre pedreiros , eletricistas , soldadores , o barulho era insuportável .
Fomos fazendo nosso trabalho , secagem da parede , limpeza , fixação das partes em descolamento , nivelamento e começamos o retoque .



Mas a equipe da cenografia logo foi chegando e tivemos que parar este trabalho pela metade.
Fizeram então uma parede falsa , de madeira para esconder o painel . E até hoje não sei o que foi feito dele ....




Tinha muita trabalho a se fazer lá na Brasil +500 , os quadros iam chegando , muitos deles precisando de restauro , e fomos encarregados de restaurar vários deles . Montamos uma sala de conservação e restauro lá dentro do primeiro Pavilhão . Era um corre-corre sem fim todos os dias. Fizemos os laudos de conservação das obras de Arte Moderna , das obras do Imagens do Inconsciente e Arte Contemporânea .


Foi simplesmente delicioso trabalhar neste evento , um grande aprendizado da História da Arte , uma honra poder ver tão de perto cada pedacinho de obras de arte , que até então só tinha visto em catálogos ou museus . E também o contato direto com os mais diversos artistas e curadores .




A montagem da cenografia também era um espetáculo a parte , o cenário criado por Bia Lessa para a Arte Barroca foi polêmico e surpreendente , no vão da Bienal ela criou uma Igreja Barroca , onde foram expostas as peças de um Altar Barroco e Imagens .

 
Foi na montagem da obra "O Helicóptero " de Wesley Duke Lee , que tive meu momento fã ... rsrsrs. Sou uma apaixonada pelos trabalhos deste artista .Eu estava fazendo o laudo e acompanhando a montagem da obra dele .
Como todo artista , ele é um excêntrico apaixonado por arte , quando ele viu através dos vãos a Igreja feita por Bia Lessa em processo de montagem , logo pediu minha máquina fotográfica para registrar um momento que ele nunca tinha visto ! Um Cristo deitado no chão com seu crucifixo ...rs .

A foto está guardada até hoje comigo , como um " obra de arte " do Wesley Duke Lee feito só para mim .



Depois da exposição montada , durou de 23 de abril a 10 de setembro . Fiz a conservação de várias obras e alguns restauros de emergência . Aconteciam imprevistos , lógico , durante toda a exposição.

Uma vez fui socorrer uma obra que haviam grudado um " chiclete " , por uma turma de estudantes .
Uma obra de Hélio Oiticica simplesmente se espatifou no chão , pois era pendurada por fios de nylon que não aguentaram seu peso .
As obras de Anselm Kiefer também sofreram ao longo da exposição , os painéis de madeira , onde eram feitas as colagens do artista , começaram a se movimentar devida a falta de umidade do local onde estavam expostos .
As obras de Arthur Bispo do Rosário estavam cheias de cupins e tivemos que descupinizar e restaurar algumas delas .
Uma obra da Arte Afro Brasileira , que ficava perto das janelas do prédio da Bienal começou a craquelar inteira , e com a autorização dos proprietários eu fiz a fixação dos craquelês as pressas , ou ia começar a cair toda a camada pictórica .



Foram 5 meses de exposição , e quase um ano de trabalho ... trabalhei até nos finais de semana . Mas também aproveitei cada pedacinho da exposição , cada quadro, escultura e objeto .. e lógico as altas festas dos patrocinadores que aconteciam .
Depois veio o processo de desmontagem , os laudos de conservação de saída das obras e as entregas .
Um ano agitado e de muita aprendizagem para mim . Tive a certeza de estar no momento certo , na hora certa e de que realmente estou no caminho certo . E tudo isso é o que amo fazer !




   

Quinze minutos de fama


O trabalho em São Roque estava a todo vapor , tínhamos uma equipe em harmonia , Anchieta , eu , Paulo e mais tarde o André
( dois pintores de parede excelentes ) .
A cidade estava se encantando com cada nova etapa concluída . Já fazíamos parte da vida pacata da cidadezinha de interior . Por onde a gente andava , erámos reconhecidos ( acho que também por que andavámos todos sujos de tinta ..rs ).


Até saíram notícias no Jornal da Economia ( jornal local ) e até no jornal de Sorocaba sobre a restauração da Igreja Matriz .


Aqui já era o ano de 1997 , eu estava grávida de seis meses do meu filho . E não deixei de subir nos andaimes até o momento da minha médica me proibir aos 8 meses de gravidez . Ainda sai de lá e fui retocar umas telas no ateliê . Tive as primeiras contrações retocando uma tela cusquenha muito linda .

Voltei para São Roque depois de aproximadamente 7 meses , e nesta etapa estava sendo feitos os corredores laterais .
O restauro continuou etapa por etapa até o final , no Altar Mor . Sendo concluído no começo de 2000 .
Um grande trabalho muito bem feito , com muita dedicação e com muito orgulho .
Sempre que posso dou uma escapadinha para São Roque rever a Igreja , e não tem nenhuma vez que eu não fique emocionada !



Teto do Altar Mor da Igreja Matriz de São Roque restaurado








e ...  " VIVA SÃO ROQUE !!! "












  

Cores e máscaras





A restauração da Igreja Matriz de São Roque era minuciosa . Os andaimes eram montados da porta de entrada e iam em direção ao Altar ,por etapas , a cada 4 ou 5 meses é que mudávamos de lugar . Somente na semana das festividades de São Roque , 16 de Agosto , é que a Igreja era liberada . A festa é até hoje um lugar importante de romaria dos fiéis , e recebe alguns mil visitantes todo ano. É uma loucura ! A Igreja fica o dia todo com um entra e sai de gente , querendo tocar na Imagem de São Roque . A tardezinha do dia 16 tem a procissão , onde o Santo sai e , acompanhado pelos fiéis , percorre algumas ruas do centro , que são decoradas no dia anterior por tapetes de serragem coloridos com desenhos muito bonitos. E termina na porta da Igreja Matriz com o povo gritando a todo instante :  



                " VIVA SÃO ROQUE !!!"




corredor da nave central da Igreja Matriz de São Roque


Anchieta e eu trabalhamos com dedicação durante todos esses 4 anos , limpeza das pinturas .... saia um caldo preto de sujeira e só assim chegávamos a cor original. Nas paredes laterais da nave central , da metade para baixo , havia uma infiltração de água de chuva causada pelo entupimento das calhas a todo instante , por folhas e pombos mortos . Depois de desentupidas as calhas e a parede seca , nós começamos a fazer o trabalho . E não era nada fácil .

Essa lateral que estou me referindo , a metade da parede para baixo da nave central , onde estão os anjos e os Apóstolos foi toda refeita , é nova ! Não se tinha como recuperar a antiga , pois havia caído a pintura toda. Assim como os desenhos ornamentais do teto , quase tudo foi refeito , igualzinho ao original . Hoje , quando ainda passo para visitar a Igreja ainda me surpreendo... não há diferença alguma no novo , feito por nós e o antigo , feito pelo Gentili .


Anchieta e eu


As cores eram as mais variadas , fazíamos todas em potes separados de plástico e as nomeamos ... mas acho que a linguagem criada era só nossa ...rs " roxo da máscara da flor " ," luz das bolinhas da corda ", " amarelo das volutas do teto" . Lá foi onde tive a certeza que minhas aulas de mistura de cores , pintando quadradinhos , tiveram um grande valor .
Acho que fizemos mais de 700 cores diferentes na Igreja toda , era muito detalhe , luzes , filetes e desenhos ornamentais com 7 a 10 cores . Era as vezes um dia inteiro para se fazer 4 ou 5 cores ,  dependendo do tom . Mas eu amava este trabalho !

                                                        

As pinturas artísticas dos anjos e Apóstolos , da Nossa Senhora e de São Roque e outros elementos sacros foram apenas retocadas , com um pincel bem fino , preenchendo apenas as lacunas deixadas pelos craquelês .

                                                              

A pintura ornamental que foi necessário refazer , foi um trabalho árduo a parte , as paredes normalmente tinham uma cor principal de fundo , e por cima variados desenhos sobrepostos feitos numa perfeição de proporção , distância e enquadramento. Copiamos os desenhos , passamos cada parte separadamente para um acetato e recortamos com um estilete , vazando assim o desenho que precisávamos . Depois a parede era marcada com uma fina linha de giz , e era enquadrado cada parte do desenho. Isso foi feito muitas vezes , eram muitos desenhos e muitos detalhes.



Um dos tetos da nave central com desenhos artísticos e ornamentais





          Detalhe bem de perto do teto antes do restauro



Aqui nesta foto a cima , temos o exemplo de um detalhe do teto antes do restauro ( esquerda ) e após o restauro (direita ) .

Somente naquele quadrado das estrelas , precisamos de 10 máscaras e quase 17 cores diferentes .








Subindo pelas paredes

Altar da Igreja de São Roque restaurado


Enquanto eu fazia a Imagem de Nossa Senhora da Penha , meu mestre Anchieta estava começando a restauração da Igreja Matriz de São Roque . Esse foi um capítulo importante no meu caminho pela restauração .

 As pinturas murais da Igreja são de autoria de um pintor italiano , Pietro Gentili e seu irmão Ulderico . Eles pintaram várias Igrejas em São Paulo , como a Imaculada Conceição ( na av. Brigadeiro Luis Antonio ) , a Achiropita no Bexiga , a Igreja de Santa Teresinha ( na rua Maranhão ) , em Limeira e algumas em Minas.

As pinturas são de uma extrema beleza e harmonia , as cores e os desenhos combinavam-se perfeitamente, no teto tem as passagens da vida de São Roque, intercalado por pinturas ornamentais .Os anjos nas paredes carregam o Pai Nosso em latim , intercalados por retratos dos Apóstolos . A Igreja é inteirinha pintada , não existe um cantinho sem um ornamento , um desenho ou um filete que seja , realmente a Matriz de São Roque impressiona a todos seus visitantes .

foto depois do restauro


Quando comecei a trabalhar na Igreja , nunca tinha restaurado pinturas murais , e muito menos subido em um andaime de aproximadamente 15 metros de altura !!! É uma mistura de aventura , emoção e arte .



O estado das pinturas era lastimável , havia ocorrido vários problemas como infiltrações de água nas paredes , perdas das cores originais , todas estavam bem mais claras do que quando foram feitas , por causa da ação do tempo e também pelo calor do forro , as pinturas racharam , ou melhor , em termos técnicos craquelaram .

Foram quase 4 anos de trabalho lá , com muitas estórias para contar , mas vou contando de pouquinho .


pintura lateral do Altar restaurada













Imagens policromadas

Quando falamos em IMAGENS POLICROMADAS estamos nos referindo às esculturas feitas em madeira ou as vezes em gesso , com pintura (ou policromia) . No caso das imagens em madeira , principalmente as antigas e de valor , elas são feitas entalhadas em um bloco só de madeira , podendo ter pedaços colados separadamente (mãos , dedos ou partes de mantos) . O que acontece normalmente é uma movimentação constante da madeira  devido ao calor e a umidade , e isso pode causar rachaduras .


Camadas de gesso e cola são usadas para cobrir a madeira como uma base de preparação. Com a movimentação da madeira ou devido a perda do efeito da cola com a ação do tempo, a pintura ou policromia desprende-se.
Para solucionar esse sério problema , é preciso que se estabilize as rachaduras da madeira primeiramente e depois é feita a fixação da policromia com pincel , colocando o fixador por dentro das camadas descoladas.




A primeira Imagem policromada que fiz , com a supervisão de meu mestre restaurador Anchieta , foi uma Nossa Senhora da Penha , da Igreja de Araçariguama S.P. , perto da cidade de São Roque , por mais curioso que pareça ser  foi a cidade onde passei minha infância num camping da região , e de lá apareceu meu primeiro trabalho de restauro com imagens .






Era uma imagem portuguesa do século XVIII  , entalhada , policromada e com folhas de ouro , quase da minha altura ( tenho 1,63m ) . Trabalhei durante 5 meses nesta imagem , todos os dias da semana , das 8hs as 17hs . Muitos desprendimentos e perdas de policromia , rachaduras e muita sujeira. A imagem ficava abandonada nos porões da Igreja e foi descoberta por um padre local .
Depois de limpa a imagem , foram feitos enxertos de madeira nas rachaduras ,reconstituição com enxerto das partes faltantes ( dedo, manto ) e a fixação da camada pictórica . Logo mais fiz o nivelamento e estava pronta para o retoque . Por baixo da pintura a imagem era toda folhada a ouro , depois que é foram feito os desenhos , retirando a tinta e deixando só o ouro em algumas partes . Respeitei a pintura original , colocando ouro e reintegrando com tinta de restauro apropriada .




Ficou maravilhosa a Nossa Senhora da Penha de Araçariguama , e até ganhou uma missa especial e uma redoma de vidro para proteção,  e eu as bênçãos do meu mestre para continuar na restauração .




  

Cada dia mais apaixonada

A cada trabalho novo que chegava no ateliê , era um novo aprendizado . É tão bom poder apreciar as mais variadas obras de arte de perto , entender suas técnicas , estilos . Poder tocar em obras que só se pode normalmente olhar nas exposições .

A limpeza de uma tela é uma das mais difícies técnicas do restauro . Cada obra possui uma caracteristíca diferente da outra . E seus componentes químicos são a base do conhecimento para se fazer uma limpeza adequada .

Normalmente o que ocorre com o verniz de uma tela é a oxidação . O verniz antigo ganha um aspecto amarelado , alterando as cores originais da pintura. A remoção deste verniz requer conhecimento em química e habilidade , muita habilidade e paciência ! Deve-se retirar apenas o verniz , isso é feito com o um palito fino e algodão ( como se fosse um cotonete ) , embebecido no solvente adequado para cada verniz , isso sem afetar a camada pictórica . Uma simples distração e acaba-se limpando mais do que o necessário.

O estudo dos solventes é muito importante no restauro , assim como a química toda . Existem certos tipos de solventes que possuem a ação prolongada , que mesmo sem que possamos ver eles continuam agindo , necessitando de um enxague adequado .

Quem possue uma obra de arte nunca deve seguir " receitas caseiras" que aparecem por aí para se limpar uma tela , como já vi muitas no ateliê ( passar cebola !!! limpar com vaporetto !!! ) , cada tela tem um diagnóstico diferente , o que serve para limpar uma , pode deteriorar outra .














 

O primeiro grande desafio

Quando se é estagiária nova de um ateliê de restauro , lógico que ainda não podemos colocar nossas mãos em algo que requer muita técnica , então eu fazia limpeza de excesso de cera ( na época que comecei , ainda se utilizava a cera para o reentelamento ) , desmontava as telas dos chassis , trabalho que me deixava fascinada , quando eu pegava aquela tela solta com pintura nas minhas mãos , tão frágil e com tanto valor !

Não demorou muito e foi me dada a primeira tela para retocar . Era uma pintura moderna , uma tela enorme com uma pintura de um homem mergulhando dentro de uma piscina , pena que não me lembro o artista . As cores eram bem difícies  , cor de água em vários tons ,  verde clarinho , azul clarinho , verde piscina ( rsrsrs ) , branco " sujo " . A tela tinha um rasgo , que já havia sido recuperado e nivelado pelas minhas "chefas ". Lembro-me da dificuldade de fazer as inúmeras combinações de tinta de restauro para chegar na cor certinha , igual a original , com várias nuances diferentes. E nunca ficava igual , sempre aparecia o meu retoque .

Depois de " sofrer " um pouco com esta tela , minha " chefa " foi lá ver o resultado . As cores estavam até que bem parecidas , mas o problema estava no nivelamento ! Quando o nivelamento não fica perfeito , com a textura da tela igual , não adianta fazer a reintegração cromática que for , sempre ficará visível !



Aprendi essa grande lição , e depois de consertado o nivelamento , o meu retoque ficou perfeito , finalmente !!! E minha paixão por retocar começou aí ...








O primeiro ateliê a gente nunca esquece

No meu 2° semestre da faculdade de Artes Plásticas apareceu uma oportunidade de emprego em um ateliê de restauro . Eu que nunca tinha pensado em virar restauradora de arte , fui aprovada rapidamente pela minha habilidade .
Me lembro como se fosse hoje do dia que pisei no ateliê , huummm.... o cheiro , é inexplicável e inesquecível !  Tintas de restauro , vernizes , solventes e as ceras , uma mistura que só quem conhece sabe ! Melhor do que qualquer perfume para quem adora arte .
Uma coisa que perguntei logo quando fui entrevistada " é preciso saber pintar para restaurar ? "  e me surpreendi com a resposta que recebi ..." não é necessário ! " .  Bom,  então o que um restaurador faz se não pinta ?
Muito mais que pintar , um restaurador recupera a obra de arte danificada . Depende do estado de conservação de cada obra , cada uma tem seu " estado clínico " diferente da outra. Detectar os problemas de uma obra de arte vai além de simplesmente olhar .
Por isso a base de estudo em Artes Plásticas é tão importante , lá se aprende como se pintava na época de Michelangelo , ou de artistas modernos , os diversos suportes  ( tela , madeira ou parede ) , as bases de preparação , as várias camadas de tinta sobrepostas , os vernizes e pigmentos usados , conforme sua época .












Desenvolvendo a percepção






O que se aprende numa faculdade de artes ,  leva-se para a vida toda !
Desenvolvemos o olhar , as formas começam a fazer um sentido estético,
as cores são mais que simples misturas de tintas ... aprendemos a analisar
através da luz que elas possuem .
Este exercício simples da fazer uma tabela de cores foi um dos passos fundamentais para que eu seguisse a carreira de restauradora . Depois de xingar muito ( internamente ) o professor " Sparapan" que me fez passar horas pintando quadradinhos coloridos , que precisavam ter a curvatura certa de luz , adicionando o preto e o branco , hoje o agradeço de coração !!!
Com essa habilidade adquirida posso fazer os mais complicados retoques ou  " reintegração cromática " ( nome mais formal ) em obras que tiveram sua camada pictórica perdida .





Assim tudo começou


Fazer faculdade de Artes Plásticas era apenas um descanso para a cabeça , depois de passar pelo colégio com boas notas e passar no vestibular com 17 anos. Meu sonho era medicina , mais exatamente , cirurgia plástica , bisturis , delicadeza , exatidão e estética .


Entrei na faculdade e logo fui descobrindo que não era tão fácil assim , DuChamp , Salvador Dali , Chagal , dadaísmo , cubismo , surrealismo , concretivismo ... como entender o processo criativo ? Como nascem as ideias para uma obra de arte ? E mais ,  como uma obra de arte torna-se famosa ?


Tive grandes artistas lá como professores , Nelson Leirner , José Spaniol , Hermann Takasey , Nicolas Vlavianos , Ana Mantovanni entre outros tantos .




E minhas respostas vieram com o tempo , entender a arte é um processo de desenvolvimento pessoal .