BRASIL 500 anos , o grande evento

Era o ano das comemorações de 500 anos do Descobrimento do Brasil, e o país todo se agitava para as mais diversas festividades . Entre elas a maior exposição de Arte já vista .

A " Mostra do Redescobrimento Brasil +500 " .

Ocupou os três espaços do Ibirapuera , a OCA , A BIENAL , e onde é hoje o Museu Afro Brasileiro , além de uma sala de projeções ao lado da Bienal chamada " Cine Caverna ".


"Decidimos incluir na mostra um elemento
revolucionário que mudasse, definitivamente,
a história das exposições no Brasil :
em vez de apresentar obras de arte da forma tradicional , resolvemos transformar cada um dos módulos da exposição
em um autêntico espetáculo cenográfico,
a serviço da maior ênfase à beleza dos trabalhos expostos e da compreensão do seu conteúdo. "

Edemar Cid Ferreira


Foi um grande evento , que atraiu um público gigantesco , e foi executado por centenas de pessoas das mais diferentes áreas , desde a reforma da Marquise , dos Pavilhões , a cenografia , iluminação , museologia , conservação , curadoria , transporte de obras , área educativa e patrocinadores.
Bem antes do evento começar fomos chamados as pressas , Anchieta e sua equipe ( eu e Anna ) , para restaurar um painel que existia na OCA. Estava tudo em obras a mil por hora lá , e o painel atribuído a Clóvis Graciano estava se deteriorando devido a infiltração de água no local.





O trabalho não era nada fácil , pois a parede estava bem úmida , que chegava a escorrer . E não havia tempo para se restaurar o painel como devia ser feito , como sempre , deixaram tudo para última hora .
E tinha também muita gente lá dentro , entre pedreiros , eletricistas , soldadores , o barulho era insuportável .
Fomos fazendo nosso trabalho , secagem da parede , limpeza , fixação das partes em descolamento , nivelamento e começamos o retoque .



Mas a equipe da cenografia logo foi chegando e tivemos que parar este trabalho pela metade.
Fizeram então uma parede falsa , de madeira para esconder o painel . E até hoje não sei o que foi feito dele ....




Tinha muita trabalho a se fazer lá na Brasil +500 , os quadros iam chegando , muitos deles precisando de restauro , e fomos encarregados de restaurar vários deles . Montamos uma sala de conservação e restauro lá dentro do primeiro Pavilhão . Era um corre-corre sem fim todos os dias. Fizemos os laudos de conservação das obras de Arte Moderna , das obras do Imagens do Inconsciente e Arte Contemporânea .


Foi simplesmente delicioso trabalhar neste evento , um grande aprendizado da História da Arte , uma honra poder ver tão de perto cada pedacinho de obras de arte , que até então só tinha visto em catálogos ou museus . E também o contato direto com os mais diversos artistas e curadores .




A montagem da cenografia também era um espetáculo a parte , o cenário criado por Bia Lessa para a Arte Barroca foi polêmico e surpreendente , no vão da Bienal ela criou uma Igreja Barroca , onde foram expostas as peças de um Altar Barroco e Imagens .

 
Foi na montagem da obra "O Helicóptero " de Wesley Duke Lee , que tive meu momento fã ... rsrsrs. Sou uma apaixonada pelos trabalhos deste artista .Eu estava fazendo o laudo e acompanhando a montagem da obra dele .
Como todo artista , ele é um excêntrico apaixonado por arte , quando ele viu através dos vãos a Igreja feita por Bia Lessa em processo de montagem , logo pediu minha máquina fotográfica para registrar um momento que ele nunca tinha visto ! Um Cristo deitado no chão com seu crucifixo ...rs .

A foto está guardada até hoje comigo , como um " obra de arte " do Wesley Duke Lee feito só para mim .



Depois da exposição montada , durou de 23 de abril a 10 de setembro . Fiz a conservação de várias obras e alguns restauros de emergência . Aconteciam imprevistos , lógico , durante toda a exposição.

Uma vez fui socorrer uma obra que haviam grudado um " chiclete " , por uma turma de estudantes .
Uma obra de Hélio Oiticica simplesmente se espatifou no chão , pois era pendurada por fios de nylon que não aguentaram seu peso .
As obras de Anselm Kiefer também sofreram ao longo da exposição , os painéis de madeira , onde eram feitas as colagens do artista , começaram a se movimentar devida a falta de umidade do local onde estavam expostos .
As obras de Arthur Bispo do Rosário estavam cheias de cupins e tivemos que descupinizar e restaurar algumas delas .
Uma obra da Arte Afro Brasileira , que ficava perto das janelas do prédio da Bienal começou a craquelar inteira , e com a autorização dos proprietários eu fiz a fixação dos craquelês as pressas , ou ia começar a cair toda a camada pictórica .



Foram 5 meses de exposição , e quase um ano de trabalho ... trabalhei até nos finais de semana . Mas também aproveitei cada pedacinho da exposição , cada quadro, escultura e objeto .. e lógico as altas festas dos patrocinadores que aconteciam .
Depois veio o processo de desmontagem , os laudos de conservação de saída das obras e as entregas .
Um ano agitado e de muita aprendizagem para mim . Tive a certeza de estar no momento certo , na hora certa e de que realmente estou no caminho certo . E tudo isso é o que amo fazer !